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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os 15 anos do Real


Em 1994 abriu-se uma enorme janela de oportunidades para o Brasil. O avanço da telemática e da logística mudou o modo de produção das grandes multinacionais. Em vez de fornecedores instalados próximos à montadora, um arquipélago de fornecedores espalhados pelo mundo e atendendo às necessidades das empresas de modo rápido.
Houve um enorme processo de reestruturação das empresas, em função dessa nova realidade. O ponto central era implantar grandes unidades montadoras em alguns países-chave e se valer da rede mundial de fornecedores. Um desses países era a China; o outro, o Brasil.
O que atraía no país era um mercado de consumo relativamente sofisticado, um mercado potencial excelente (graças à população brasileira), a possibilidade de ampliar esse mercado com o fim da inflação, e a posição geográfica de fornecedores para a América do Sul e África.
Quando veio o Real, bastaria a sua consolidação para o Brasil voltar a experimentar o ritmo de crescimento dos anos 70. A apreciação do real – da noite para o dia o dólar passou a valer 85 centavos de real – matou essa possibilidade de crescimento. As contas externas entraram em parafuso impedindo o país de continuar a crescer.
O que levou a essa loucura foi a estratégia de monetização (injeção de moedas na economia) planejada pelos economistas do real. Havia várias formas de injetar dinheiro. A mais benéfica seria, no resgate de títulos públicos, resgatá-los, em vez de emitir novos títulos para substituir os anteriores. A dívida pública cairia substancialmente, os investidores ficariam com dinheiro na mão e seriam obrigados a procurar ativos privados. Com a economia bombando, haveria um novo ciclo de crescimento à mão.
Em vez desse modelo, os economistas do real optaram por realizar a monetização através de compra de reservas. Ou seja, só entregariam reais a quem trouxesse dólares para o país. Não havia lógica nisso, a não ser a de colocar o controle da liquidez nas mãos dos bancos e fundos de investimento que passaram a intermediar a entrada de capitais externos (na verdade, capitais brasileiros que tinham saído do país). Entre os beneficiários estavam economistas que, mesmo fora do governo, trabalhavam diretamente na formulação do Real – como André Lara Rezende.
Por si só, essa manobra permitiria aos pais do real – e bancos aliados – o melhor negócio da sua vida. Mas não bastava. Resolveu-se ampliar esses ganhos através de uma das operações mais obscuras da história econômica do país.
Em todo plano de estabilização baseado em âncora cambial, a probabilidade maior é de desvalorização cambial prévia – para permitir à economia se estabilizar sem precisar mexer no câmbio depois da âncora lançada. O Real trabalhava com a lógica de não manter a paridade com o dólar em um por um.
Poucos dias após o lançamento, o dólar estava valendo 85 centavos. Na BMF (Bolsa Mercantil e de Futuros) bancos como os de André e outros ligados aos economistas do Real, ganharam o que nunca sonharam a vida toda.
Esse movimento criou uma armadilha, que custaria 15 anos de estagnação à economia brasileira.


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